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Lição do Reino Unido ao Rio Grande do Sul, por Gilberto Schäfer

Lição do Reino Unido ao Rio Grande do Sul, por Gilberto Schäfer

Artigo de autoria do presidente da AJURIS, Gilberto Schäfer, publicado no jornal Zero Hora.

O lendário primeiro-ministro britânico Winston Churchill cunhou uma frase que ficou mundialmente famosa e que tanto tempo depois de pronunciada ainda permanece atual, válida e merecedora de reflexão: a democracia é o pior modelo político, exceto todos os outros, recitou o estadista.

Pois agora a terra do inesquecível Churchill nos oferece uma nova lição de democracia e de fidelidade ao Estado Democrático de Direito: a Suprema Corte britânica decidiu que o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia, aprovada em plebiscito) precisa ser confirmada pelo Parlamento. O governo, é claro, não gostou nada disso.

É inevitável confrontar esse fato de repercussão mundial com a situação que estamos vivendo no Rio Grande do Sul. Aqui, o que assusta é ouvir, com frequência, importantes vozes lamentar que o Executivo não pode fazer o que quer – extinguir, demitir, tributar e o que mais lhe der na cabeça – porque surge o “incômodo” Judiciário (provocado por alguém, diga-se) para opor limites, baseados na legislação, diga-se também. Essas vozes inconformadas gostariam de ter a volta do absolutismo em pleno século XXI?

O Brasil, nunca é demais lembrar, vive o mais longo período democrático de sua história, o qual  atingirá em breve apenas 32 anos, por incrível que pareça.  Nossa democracia, jovem de três décadas consecutivas, ainda é aquela plantinha tenra que carece de todo o cuidado, sob pena de perecer. O primeiro preceito de nossa Carta Maior expressa que “a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito” (Título I, dos Princípios Fundamentais, Art. 1º). Ou seja, a democracia deve ser exercida sob a observância da Constituição e das leis, que são elaboradas pelo Legislativo. Ao Judiciário, estruturado em instâncias de jurisdição, cabe dizer o Direito.

Democracia pressupõe participação popular, de uma forma ou de outra. Os eleitos, porém, não se transformam em super-homens que podem governar sem diálogo com aqueles que os elegeram e tomar medidas estranhas às plataformas eleitorais que apresentaram antes de chegar ao poder. É desejável que nossa democracia seja aperfeiçoada, mas o aprimoramento não pode violar os fundamentos desse regime político.

 

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