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Carta ao presidente da República, por Vera Lúcia Deboni

Carta ao presidente da República, por Vera Lúcia Deboni

Artigo de autoria da juíza de Direito Vera Lúcia Deboni, publicado no dia 10 de março no jornal Zero Hora e no Blog Interesse Público da Folha de São Paulo.

Senhor Presidente. No dia 8 de março, como fazem há muito tempo, as mulheres saíram de casa e foram às ruas. O senhor precisa saber que, em pleno século XXI, nossa força de trabalho representa 43,8% do total no país. Como era Dia Internacional da Mulher, o trânsito em Porto Alegre estava difícil. Muitas mulheres do interior do Estado, entre trabalhadoras, jovens e agricultoras de mãos calejadas faziam manifestações em prol da equidade de gênero.

Representando minha associação de classe, fui ao primeiro compromisso do dia: encontro com mulheres líderes em instituições, a convite da desembargadora Corregedora-Geral da Justiça do TJRS. Lá estavam a Presidente do TRE/RS, a 2ª vice-presidente do TJRS, deputadas estaduais, promotoras de justiça,  advogadas, defensoras públicas, delegadas de polícia, policiais militares.Tratamos da defesa dos direitos das mulheres.

Depois, pelo mesmo motivo, participei de programa de rádio com três jornalistas mulheres. E no final da tarde, de evento cultural com várias mulheres artistas. Nada surpreendente, já que, em pleno século XXI, somos quase maioria no planeta, e na Magistratura do RS passamos de 50%, na qual, assim como em outras carreiras, a presença feminina é crescente.

A surpresa do dia ficou por sua conta. Em uma interpretação desconectada com o tempo em que vivemos, em rede nacional, alardeou uma avaliação de que a nossa contribuição para a economia do país se resume à verificação de preços no supermercado. Diante disso, peço que oriente a Receita Federal e os demais órgãos de arrecadação de impostos que isente todas as mulheres de qualquer contribuição. E, para não deixar de atender sua expectativa, depois de atendido meu pedido,  assumo compromisso de ir ao supermercado todos os dias úteis da semana e olhar os preços. Só peço que informe a quem devo comunicar quando subirem.

Senhor Presidente, a mulher pode ser dona de casa, desde que isso não seja uma imposição. Pode, se quiser, controlar os preços no supermercado, desde que isso não seja uma política pública. Mas o senhor precisa saber: lugar de mulher é onde ela quiser!