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Que triste realidade, que droga…, por Luis Carlos Rosa

Que triste realidade, que droga…, por Luis Carlos Rosa

Artigo de autoria do juiz de Direito Luis Carlos Rosa, publicado no dia 29 de abril em coluna semanal no Jornal das Missões, de Santo Ângelo.

Todos os dias me vêm relatos e mais relatos de famílias destroçadas pelo uso de entorpecentes, nesta semana fiquei muito sensibilizado pela morte de um ex-aluno e amigo que sabia eu estava há muito tempo travando uma luta ferrenha para se livrar do uso de drogas, várias vezes nos falamos na faculdade, relatando ele as batalhas que estava travando para se desvencilhar do uso de entorpecentes, seus planos de vida, sua intenção de desenvolver trabalhos voluntários contra a drogadição e tratamento de dependentes, mas infelizmente, parece que a força diabólica da droga venceu mais essa batalha, ceifando mais uma vida, enlutando familiares e amigos, o que me deixou triste, sensibilizado e instigado a escrever sobre essa epidemia infernal, que põe abaixo famílias, sonhos e vidas.
Na semana passada, durante as audiências concentradas que se realizam nos abrigos, também me foi dado conhecimento que uma mãe, depois de mais de um ano de tratamento contra drogadição, acabou recaindo voltando à estaca zero, com o agravante de que tem ela quatro filhos acolhidos no abrigo e que com sua atitude, praticamente sepultou a possibilidade de retomada da guarda das crianças. Nesse caso, pessoalmente, acreditei na recuperação dessa mãe, que se mostrou disposta a realizar um tratamento, onde permaneceu durante longo tempo, para ao final recair dando adeus à família e aos filhos.

Na última quinta-feira, em outra audiência, também veio a notícia de que um adolescente de 13 anos, que há muito tempo vem sendo acompanhado pela rede protetiva e por mim, estava a praticar furtos em sequência para sustentar o vício que já está encrustrado, a ponto de a mãe externar na audiência, que quem sabe o melhor para o filho, recém saído da infância, seria o cerceamento de liberdade, para ficar atrás das grades do sistema CASE (antiga FEBEM).

São inúmeras vidas sendo ceifadas, mães e pais que abandonam seus filhos, crianças, pré-adolescentes e adolescentes que se jogam de cabeça na ilusória satisfação causada pelo efeito da droga, para depois ver a vida ruir. Fico imaginando o quão forte é esse apelo da droga para ter essa força, não deve ser pouca coisa. Para quem nunca teve esse tipo de problema fica fácil criticar e minimizar a situação, com explicações do tipo “isso é falta de laço”, “falta de vergonha na cara”, “no meu tempo não era assim”. Não vejo outra solução que não seja o incremento de uma rede de apoio de atendimento, tanto aos dependentes, como as famílias, o que exige altos investimentos, os quais não estão sendo feitos.

Claro que se deve combater o tráfico de drogas, isso não resta dúvidas, aliás, de forma muito intensa, inclusive, no meu ver com recrudescimento das penas para o crime, mas isso não solucionará a causa dos problemas. As pessoas precisam se sentir amparadas e acolhidas, não podem ser negligenciados ou discriminados, como até agora têm sido. Os poucos locais de tratamento, não dispõe da estrutura que deveriam dispor, basta ver a realidade dos nossos CAPS, onde faltam profissionais e uma rede de apoio externa.

Que triste realidade, que droga….