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Zero Hora: Vamos falar sobre drogas

Zero Hora: Vamos falar sobre drogas

Matéria publicada no jornal Zero Hora desta sexta-feira (26/6) destaca
a realização de realizado pelo Instituto Crack Nem Pensar.

A influência das drogas nos índices de criminalidade, no número de acidentes de trânsito e na produtividade dos trabalhadores brasileiros será debatida em um painel triplo na tarde de hoje, na Escola Superior de Magistratura da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris-RS). O encontro faz parte do Dia Internacional da Luta contra o Uso e o Tráfico de Drogas, designado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1987.

– É claro que um mundo sem drogas é uma utopia, mas queremos reforçar que as pessoas procurem uma vida limpa, que difundam boas práticas e divulguem o prazer da abstenção. As drogas estão, hoje, dentro de uma realidade repressiva e moralista, quando o ideal seria que houvesse uma atuação mais voltada à saúde pública, à prevenção e ao tratamento – afirma o presidente do Instituto Crack Nem Pensar, Luiz Matias Flach, que coordena o evento.

As inscrições para assistir às palestras são gratuitas e devem ser feitas em icnp.org.br ou no local. Restam poucas das 300 vagas disponibilizadas. Confira as entrevistas com os expositores do debate.

DROGAS E…

CRIMINALIDADE

CÉSAR FACCIOLI – Procurador de Justiça do Ministério
Público do Estado do Rio Grande do Sul e secretário estadual da Justiça e dos Direitos Humanos.

A luta contra as drogas no Brasil tem sido realizada de maneira repressiva. Estamos no caminho certo?

Não. A repressão é um componente insuficiente, pois trata o efeito, não a causa. E o que pode causar impacto na realidade, isto é, reduzir os índices de violência, é atacar as causas. A prevenção me parece o grande caminho, junto a uma ação policial que seja adequada e proporcional.

Os eixos do projeto de redução da drogadição, que está sendo montado sob a coordenação da secretaria, incluem a prevenção, o tratamento de saúde, a reinserção social e a ação da polícia para desarticular quadrilhas de tráfico. Qual é o mais desafiador?

O mais importante é a prevenção, que historicamente é objeto de menores investimentos públicos. Nosso projeto trabalha a integração dos serviços de atendimento ao usuário de drogas, prevendo o fortalecimento de ações educativas na infância, acolhimento dos dependentes químicos, tratamento adequado e reinserção social.

É como um “plano de carreira” para recuperar a dignidade das pessoas.

Como reduzir os crimes relacionados às drogas?

Existe uma percepção de impunidade quase aculturada no Brasil. A educação é o ponto de partida. Capacitar os educadores para conversar com as crianças e os adolescentes sobre drogas é fundamental, pois eles são os motivadores sociais nas comunidades.

O projeto da secretaria trabalha com grandes círculos concêntricos: prevenção pelas famílias, depois pelas escolas e, por último, vêm as atribuições do Estado. Isoladamente, essas etapas não oferecem solução. Somadas, não vão fazer mágica, mas podem mudar a realidade.

DROGAS E…

TRÂNSITO

FLÁVIO PECHANSKY – Psiquiatra e diretor do Centro
de Pesquisa em Álcool e Drogas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

De que forma as drogas ilícitas interferem na performance cognitiva dos motoristas?

Para “entender” o trânsito e todos os seus estímulos, um motorista faz dezenas de adaptações e “leituras” por minuto. Todas as substâncias psicoativas afetam a performance de um condutor. Isso está bem documentado para o álcool há mais de 70 anos.

Mas maconha, cocaína, remédios para dor e remédios para dormir também afetam a cognição e a performance. Dessas, a mais estudada é a maconha. Há estudos nos países desenvolvidos mostrando que ela interfere na habilidade de dirigir, diminuindo de forma geral nossos reflexos necessários para operar máquinas e conduzir veículos.

Uma pesquisa apontou que, após o endurecimento da Lei Seca, em 2012, o número das pessoas que bebem e dirigem caiu 16%.

Que medidas seriam necessárias para frear a incidência de motoristas que dirigem sob efeito de drogas?

O Brasil é um país fraco no cumprimento das leis e normas escritas. Na verdade, o que faz um motorista modificar seu comportamento atrás do volante é uma “sensação de que vai ser pego”. Em um experimento recente em uma cidade chinesa, todas as intersecções receberam câmeras para multar motoristas que ultrapassavam sinais, ou mesmo dirigiam acima da velocidade.

As taxas de acidentes caíram a zero. Nosso grupo está estudando a comparação da percepção sobre agentes de trânsito em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Onde o agente é visto como figura respeitável e a sensação de punição é implacável, as taxas despencam.

No nosso caso, a diminuição em 16% é um indicador do que já se sabe internacionalmente há décadas: quanto maior, melhor e mais rápida for a fiscalização e a punição, melhores seerão as taxas de sucesso. Infelizmente ainda estamos mais fazendo leis do que as cumprindo.

DROGAS E…

AMBIENTE DE TRABALHO

ÂNGELA MARIA FINCK – Assistente social e especialista em prevenção ao uso de drogas no modelo Sesi-RS/ONU.

Qual a melhor maneira de abordar, no ambiente de trabalho, a discussão da prevenção contra as drogas?

Trabalhar a prevenção. É barato e atinge um maior número de pessoas de forma mais rápida. Se trabalharmos somente a questão do tratamento com quem precisa de atenção em relação ao uso de drogas, o resultado demora mais. Se começarmos com ações preventivas, temos resultados com mais rapidez e eficácia.

Que impactos o uso de drogas tem no rendimento do trabalhador?

O principal é nos fatores psicossociais, que influenciam a convivência. A pessoa pode ter dificuldade de estabelecer laços e, além disso, aumentar o número de faltas, atrasos, acidentes de trabalho e licenças-saúde. Nem todos os usuários de drogas têm esses problemas, mas pode acontecer. Nossa ideia não é que as empresas demitam – até porque, pela lei, não pode –, mas que consigam encaminhar os funcionários para um caminho mais saudável.

Quais os aspectos positivos das ações de prevenção para o trabalhador? E para a organização?

A gente faz uma série de atividades de valorização da vida. Quando essas atividades se tornam rotineiras, parte de um programa interno da organização, o funcionário se sente mais valorizado, pertencente, sente que constrói o trabalho e que sua participação é importante. Pode ser ginástica, massagem, almoços, enfim, ações que tratem da qualidade de vida de um modo geral. Temos que fazer isso antes de falar sobre as drogas em si.

A ideia é promover ações para que as pessoas se mantenham saudáveis e possam sentir isso no seu ambiente de trabalho. Para a empresa, essas atividades resultam em funcionários mais envolvidos, com mais qualidade de vida, mais motivados.

 

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