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Tô com saudade da minha mãe, por Luis Carlos Rosa

Tô com saudade da minha mãe, por Luis Carlos Rosa

Artigo de autoria do juiz de Direito Luis Carlos Rosa, publicado no dia 31 de dezembro em coluna semanal no Jornal das Missões, de Santo Ângelo.

Mais um ano chega ao fim, outro está por se iniciar e com ele projetos são feitos, metas são estabelecidas e a esperança se renova, não há como “zerar” tudo, como muitos dizem, pegar só o que aconteceu de bom, contabilizar na nossa conta pessoal, apagar as coisas ruins, passar uma borracha e começar como se o que passou pudesse ser esquecido, não pode. Ignorar os erros, as falhas é um mau começo, temos que crescer nos nossos erros, nas nossas fraquezas tornando as dificuldades um sustentáculo de crescimento e não simplesmente apagá-las, como se nada tivesse acontecido.

Durante esse ano escrevi várias colunas, mais de 40 (quarenta), contei histórias de vida de pessoas humildes com suas dificuldades, na sua grande maioria sem uma estrutura familiar, com uma prole numerosa, muitos semi-analfabetos, sem profissão definida, que não conseguem fazer esse raciocínio para um crescimento pessoal e familiar, são pessoas que lutam dia a dia pela sobrevivência, alienados política e culturalmente, pessoas que vivem abaixo da linha pobreza, contingente que segundo dados oficiais voltou a crescer no País o que só faz aumentar a crise social e os desafios daí decorrentes.

A tendência, dentro deste cenário terrível onde os gastos sociais estão sendo reduzidos, não é animadora, muito pelo contrário, serão mais pessoas exigindo cuidados dos serviços públicos de assistência social, saúde, habitação, educação e segurança, crescerão os números de crianças que terão seus direitos violados, sem um lar, sem um ambiente adequado de desenvolvimento, serão mais pessoas sendo aliciadas pelo tráfico e pela prostituição, com consequências avassaladoras. O que se pode desejar aos governantes que estão no poder e aos que estão assumindo é   que tenham a lucidez de vislumbrar o cenário e tentar superar essas dificuldades, tarefa árdua diante de um País esfacelado politicamente, sem unidade, sem rumo.

Toda essa conjectura é desconhecida da pequena Maria (nome fictício), criança de 03 a 4 anos de idade que sentou no meu colo e teimava de dali não sair, durante as atividades de encerramento de ano realizadas no Lar do Menino, instituição que abriga crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, tendo ela me indagado inúmeras vezes “então tu é o juiz né”…. “juiz to com saudade da minha mãe” … “quando tu vai me mandar embora”.

O que fazer? O que dizer? Sabendo eu que a família não tem a condição de dar o amparo necessário tanto material, mas principalmente afetivo e de cuidados.

Meus amigos a situação é séria, não vivemos em uma ilha da fantasia, embora muitos assim se comportem ignorando a tudo e a todos ao seu redor. Enquanto estamos curtindo a vida em festas, com fartura, entrando em férias, nos dirigindo a locais aprazíveis, existem inúmeros Joãos e Marias em situação calamitosa, que no futuro gerarão outras pequenas Marias e outros Joãos.

Penso que além de atribuirmos responsabilidades ao Poder Público, que sem dúvidas é responsável, devemos todos, sem exceção, cumprir com uma função social, incluindo-se aí pessoas naturais e pessoas jurídicas, todos juntos nos engajando em uma mudança de comportamento, um comportamento menos individualista e mais solidário.

Desejo a todos um próspero ano novo.