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O poder das palavras, por Luís Carlos Rosa*

O poder das palavras, por Luís Carlos Rosa*

Estou em férias que agora estão por se encerrar, reinicio a trabalhar junto à Vara da Infância e Juventude na próxima semana, neste período de férias desligo da tomada, desligo dos problemas, esqueço os processos, os quais continuam a tramitar sob a direção de outro magistrado. Acho que quem lê minhas colunas com alguma assiduidade percebeu que em Janeiro as colunas que escrevi não trataram de dramas e de histórias vivenciadas no dia a dia forense. Acontece que não consigo escrever o que de alguma forma não tenha vivenciado, ou de sentimentos que cultivo.

Outro dia desses li uma coluna de um escritor de primeira linha, na qual externou ele, ou ela, agora não me lembro, que a pessoa que escreve, não consegue se desvincular da sua forma de ser. Leio muitas petições no dia a dia forense e é impressionante como se conhece uma pessoa, lendo o que essa pessoa escreve, da forma como escreve. A personalidade das pessoas se revelam nos detalhes da escrita, no tratamento respeitoso ou não com que se dirigem ao outro e aqui uma observação, não se deixa de ser combativo, tratando ao outro como gostaria de ser tratado, digo, com respeito. Aliás, acho que esse é um dos segredos da vida, tratar ao outro como gostaria de ser tratado.

Escrever exige responsabilidade, perdi às contas quantas vezes escrevi alguma coisa que gostaria de dizer, e depois repensei e mudei a escrita, dizendo a mesma coisa de uma forma diferente, ai outra particularidade da escrita, o escritor tem tempo de refletir sobre o que escreve, pode medir as palavras, mudar o tom, e afirmo, sempre se pode dizer as coisas de uma forma não agressiva, de uma forma a construir um diálogo, uma solução.

Diferentemente da escrita, quando se fala alguma coisa para o outro, ou para uma plateia, não se tem muito tempo para pensar, muitas vezes as pessoas falam as coisas no calor de uma discussão e que acaba por gerar um pandemônio difícil de ser corrigido, fico pensando em tragédias que acontecem em discussões de trânsito, ou por alguma besteira qualquer, gerando ações desproporcionais e por vezes com consequências irremediáveis.

No entanto, a escrita, ao contrário da fala, fica registrada é um documento formal, você não tem como negar o que escreveu e assinou, ou negar suas ideias, estão ali, gravadas, no máximo pode argumentar exigindo uma correta interpretação do que pretendeu externar. Para se interpretar a escrita e mesmo a fala, existe a necessidade de uma análise contextualizada. Vejo muitas injustiças que se cometem, por conta desta descontextualização, aliás, já vi isso em processos, onde alguém extrai uma frase ou uma parte de uma frase de uma escrita longa e passa a construir toda uma tese em cima daquela frase, ignorando o sentido em que foi escrita.

O poder das palavras escritas e faladas é imensurável, tenho que para conhecer uma pessoa basta uma boa conversa, ou uma leitura atenta do que essa pessoa escreve. Amizades se destroem por palavras mal ditas, vidas se transformam, como dizem, não foi a toa que Deus nos deu dois ouvidos para ouvir e apenas uma boca para falar, escutar mais e falar menos é um bom começo para tudo, sem esquecer que Deus nos deu o maior computador do mundo para pensarmos e elaborarmos o que dizemos e o que escrevemos, um cérebro com inúmeras conexões e capacidades.

Que todos venhamos a usar para o bem esse dom maravilhoso.

Um ótimo final de semana a todos.

*Luís Carlos Rosa, é juiz de Direito Titular da Vara da Infância e Juventude de Santo Ângelo, professor Universitário na URI-Santo Ângelo, Mestre em Direito e pós-graduado em Processo Civil. Artigo publicado no Jornal das Missões, de Santo Ângelo, no dia 4 de março.