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É preciso acreditar, por Luis Carlos Rosa

É preciso acreditar, por Luis Carlos Rosa

Artigo de autoria do juiz de Direito Luis Carlos Rosa, publicado no dia 1º de outubro
em coluna semanal 
no Jornal das Missões, de Santo Ângelo.

Não é preciso bola de cristal para saber que nesse sábado a maciça maioria das notícias jornalísticas estarão voltadas para as eleições que se avizinham. Quem sabe deveria eu também me propor a escrever sobre o tema, sobre a importância do voto e das escolhas que se fizerem, um manifesto pelo voto consciente, confesso que cheguei a iniciar a escrita de uma coluna nesse sentido, ocorre que quando algo me impacta durante a semana, me vejo compelido em compartilhar o sentimento com meus leitores.

Escutei durante essa semana de uma técnica da área protetiva (assistente social), que sempre se achou ela muito dura no enfrentamento e na forma de lidar com as dificuldades das pessoas, não se deixando emocionar, procurando sempre agir racionalmente, mas diante do sofrimento de uma criança que lhe pediu ajuda com um abraço, sentiu-se impotente, com um nó na garganta e com os olhos marejados.

Digo de cadeira que trabalhando com as mazelas e as dificuldades das pessoas, em especial de crianças, não há como não se envolver emocionalmente. Durante todos esses anos de atuação no Juizado da Infância e Juventude, perdi as contas de quantas vezes me faltaram palavras, quantas vezes tive que respirar fundo, parar, concentrar, quantas vezes chorei, mas quando acontece isso sinto que estou vivo, sentimentos que me impulsionam a buscar soluções, a mudar histórias de vidas e a acreditar nas pessoas.

Existem alguns casos muito difíceis, complexos, daqueles de “jogar a toalha”, dar-se por vencido, onde todos os encaminhamentos são feitos, várias pessoas se envolvem, mobilizam-se recursos e estruturas e nada dá resultado, tudo levando crer que os esforços foram em vão. Vivenciei, durante os últimos anos alguns casos assim, onde as pessoas (crianças e adolescentes) passaram por todos os encaminhamentos e instituições possíveis, incluindo abrigos, hospitalizações, internações, tratamentos, ruindo as já frágeis estruturas das famílias, esgotando os próprios profissionais da rede protetiva, sem uma sinalização positiva, conduzindo ao sentimento de que seria um caso sem solução.

Se há algo que aprendi nessa trajetória frente ao Juizado da Infância e Juventude é que para trabalhar nessa área é necessário acreditar na mudança das pessoas, mesmo quando isso seja extremamente improvável, quem não tem essa crença, não tem o perfil adequado para essa função.

Durante essa semana visualizei uma moça que passou durante vários anos sob a proteção do Juizado da Infância, onde tudo e mais um pouco foi feito, muitos, literalmente, “jogaram a toalha”, satisfação a minha de vê-la em outro momento, acompanhada dos pais, já tendo constituído sua própria família, nitidamente em um outro momento, o que reforça o sentimento de que É PRECISO ACREDITAR nas pessoas e no poder transformador do amparo, do cuidado e da proteção.

Um ótimo final de semana a todos, com boas escolhas.