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Congresso da AJURIS: pesquisador fala do radicalismo da distribuição de renda no Brasil

Congresso da AJURIS: pesquisador fala do radicalismo da distribuição de renda no Brasil

Doutor em Sociologia com formação em Economia e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Medeiros abriu sua palestra no XVI Congresso Estadual da Magistratura com uma definição básica sobre a desigualdade de renda no Brasil, tema que é especialista: “É uma grande massa homogênea de pobres separada de uma pequena massa heterogênea de ricos”. Isso porque, na avaliação de Medeiros, a imensa parcela de pobreza é muito igual entre si, com atitudes e comportamentos semelhantes de seus integrantes, o que difere da pequena parcela rica, que também é desigual entre si por seus hábitos de consumo e estilo de vida.

“Uma parte do processo de adoção de políticas públicas acaba passando pela mão de vocês, que precisam administrar os conflitos dessas políticas, mas peço que considerem essa desigualdade em suas decisões”, disse o especialista para uma plateia formada por dezenas de juízas e juízes. Além da definição teórica, Marcelo explicou a desigualdade de renda no país usando um número objetivo. Disse à plateia que se toda a renda do país fosse uma nota de R$ 5 e a cédula fosse dividida em cinco pedaços, quatro deles seriam a renda de apenas um dos congressistas presentes, e o quinto pedaço seria distribuído entre os demais.

Além do exemplo matemático, citou outra cruel comparação, essa da vida real, para mostrar a má distribuição de renda brasileira. “Uma mãe pobre precisa ficar dois dias sem comer para ter dinheiro para comprar uma dose de penicilina para a filha doente. Já para comprar o material escolar do início do ano, são cinco dias sem comer. Essa é a realidade em que vivem 20% dos brasileiros”, afirmou.

Na avaliação do economista, a desigualdade impacta na formação da sociedade brasileira a partir do processo democrático. “Uma sociedade desigual significa que um indivíduo tem mais dinheiro do que o outro. Como dinheiro é poder, significa que um indivíduo tem mais poder do que o outro e, então, maior capacidade de influenciar nos processos democráticos”, explicou.

Ao falar sobre o combate à desigualdade e o enfrentamento do problema na construção de uma sociedade mais justa, alertou: “É ingênuo achar que para terminar a desigualdade é simplesmente fazer algo, tomar uma única medida como regimes autoritários acreditam fazer. Não se resolve um problema dessa magnitude só com um ato, mas com um conjunto de atitudes, que passa por exemplo, pela educação, pela qualidade do ensino superior que vai preparar as pessoas para uma vida profissional”. Os resultados, porém, vão demorar décadas para aparecer, finalizou Medeiros.

Confira aqui as imagens da manhã do 2º dia do Congresso.