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Morte de jovens deve ser enfrentada com políticas públicas efetivas, afirma diretor da AJURIS

Morte de jovens deve ser enfrentada com políticas públicas efetivas, afirma diretor da AJURIS

Juiz da Infância e Juventude Charles Bittencourt participa de lançamento de frente intersetorial para trabalhar o tema.

O aumento significativo da criminalidade faz vítimas diárias em todo o Estado, em especial na Capital e Região Metropolitana. Para debater a questão e buscar contribuir com estratégias e alternativas para solucionar este problema, a AJURIS aderiu, nesta quarta-feira (24/8), à Frente de Enfrentamento à Mortalidade Juvenil em Porto Alegre.

Representando a Associação, o diretor do Departamento das Coordenadorias e juiz do 3º Juizado da Infância e da Juventude, Charles Maciel Bittencourt, participou da reunião de lançamento do coletivo, que integra representações de diversos segmentos da rede municipal e estadual de atendimento psicossocial e socioeducação, movimentos sociais e organizações da sociedade civil.

Foi unânime entre os presentes o entendimento de que há falhas estruturais graves em todos os aspectos no que diz respeito à proteção de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. Representantes relataram, no âmbito de suas atividades, ausência de investimento, déficit de vagas, de estrutura física, de pessoal qualificado. A falta de oportunidades de resgate e inclusão social aliada à proximidade com o crime favorece o envolvimento de jovens, cada vez mais precocemente, com o universo do tráfico de drogas, causa direta ou indireta da maior parte das mortes.

Para Charles Maciel Bittencourt, a chave para entender e buscar enfrentar o problema deve passar, necessariamente, pela efetividade nas políticas públicas. “As políticas públicas são a alma do negócio. Se nós não tivermos políticas públicas bem implementadas, nós não vamos chegar em lugar nenhum.”, referiu. No âmbito de sua atuação jurisdicional, o magistrado apontou que testemunha, no contato com os jovens, que há entre a maioria um descaso, um desapego em relação a conceitos caros, como vida e liberdade. Há a consciência (e quase uma conformidade) em relação à curta duração da vida, o que move o imediatismo. “O adolescente não enxerga uma perspectiva de vida. Não prioriza a vida ou a liberdade mas tem muito forte a referência familiar.” Nesta medida, aponta Charles, é fundamental envolver as famílias no processo de resgate de perspectivas,  de vislumbrar alternativas ao crime.

Na opinião do juiz, há ainda um desafio importante que demanda a sensibilização da opinião pública, que muitas vezes não se solidariza com o contexto de criminalidade que vitima um outro segmento social. “Há uma parcela da sociedade que não está preocupada com isso, e isso é um problema muito grave. E é uma parcela que indiretamente também está sendo atingida e não se deu conta disso”, referindo o aumento roubos e latrocínios, que “apesar de não ter vinculação direta com o tráfico, são consequência do tráfico”, explicou. Charles ressaltou que os desafios do grupo serão diversos. “O momento é bem complexo e os extremismos podem se fazer presentes, dentre os quais a redução da maioridade penal”, à qual o magistrado e a AJURIS são veementemente contrários, mas que vem sendo defendida por parcela significativa da opinião pública diante do contexto de agudização da violência e da criminalidade. Diante deste cenário, a tarefa do grupo inclui também multiplicar no âmbito da rede as boas práticas, os bons exemplos que podem servir de combustível para o desenvolvimento de ações efetivas.

O magistrado ainda acrescentou que, nesse embate, deve-se ampliar a compreensão sobre a questão da segurança pública. “Nós nos deparamos com uma situação muito complexa na forma como se vê a segurança no âmbito do Estado. É muito difícil achar que a legislação vai resolver a situação, ou somente a polícia. Se investirmos somente em políticas de reclusão e repressão, nós não vamos resolver, a segurança pública não se faz assim. Se o Executivo não tiver uma política pública bem voltada efetivamente em compreender o que significa a segurança,  que não é apenas prender e tirar de circulação, que tem muitas outras coisas antes disso que são fundamentais, nós só vamos agravar o problema.”

A Frente de Enfrentamento à Mortalidade Juvenil em Porto Alegre pretende promover novos encontros, eventos e atividades externas, inclusive com a participação de jovens. A ideia da iniciativa é, a partir de uma dinâmica de grupos de trabalho,  integrar as diferentes áreas de conhecimento e atuação e, com base nas diversas perspectivas, criar uma força que, por meio de ações concretas, buscará o enfrentamento coletivo à questão.

 

Dados*:

46% dos óbitos de homens entre 15 e 29 anos ocorrem por homicídios e, se observados os homicídios somente entre 15 e 19 anos, o indicador apontaria para 53% de mortes. As diferenças aumentam no período da juventude, no qual aos 21 anos de idade existe o “pico” das chances de sofrer homicídio, ressaltando que “pretos e pardos possuem 147% mais chances de ser vitimizados por homicídios em relação a sujeitos brancos, amarelos e indígenas” (CERQUEIRA etal, 2016, p.22).

Em 2014, em Porto Alegre, a maior parte das pessoas que foram vítimas da violência foram jovens entre 10 e 29 anos, ou seja, 56,27% das pessoas assassinadas naquele ano.

*Informações do Grupo de Estudos em Juventude e Políticas Públicas da PUCRS

 

 

Juliana Campani
Departamento de Comunicação
Imprensa AJURIS
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