08 mar “O sistema de saúde pede socorro”, por Eugênio Couto Terra
O sistema de saúde do Rio Grande do Sul está colapsando. A contaminação da covid-19 cresce descontroladamente. Vão faltar leitos para os casos graves. No dia 24/2 havia 96 pacientes aguardando por UTI, e a demanda é crescente.
Avolumam-se ações judiciais na busca por leitos em todo o estado. Decisões judiciais não criam vagas em hospital. No máximo, tentam agilizar a obtenção de internação. E é cada vez maior a dificuldade em garantir o acesso a um leito.
Vivemos o momento mais crítico da pandemia. O risco do aumento exponencial da mortalidade é real. O esgotamento do sistema de saúde, público e privado, é concreto. Todos precisam ter plena consciência da situação e agir para salvar vidas.
Diminuir o contágio pelo vírus só acontecerá pela restrição consistente da circulação de pessoas, mantendo-se o isolamento social e permitindo somente o funcionamento de atividades essenciais. São recomendações da ciência, oriundas do Comitê Científico de Apoio ao Enfretamento à Pandemia da Covid-19 do Governo do RS (recomendação enviada ao governador em 24/2/21) e de inúmeros outros expertos na matéria.
É falso o dilema entre preservar a saúde ou a atividade econômica. A retomada da economia precisa de pessoas vivas e sadias.
O sistema de cogestão, possibilidade de aplicar critérios de bandeira vermelha quando o regime geral é da bandeira preta, é prejudicial, dizendo o mínimo, para salvar vidas e manter o sistema de saúde funcionando de modo próximo ao razoável.
Priorizar o interesse econômico, mantendo todas as atividades funcionando, mata mais e acelera a degradação do atendimento à saúde. Visto que pouco muda na geração de aglomerações no transporte coletivo e na circulação de pessoas nas cidades, causas do aumento da disseminação do contágio.
Alternativas existem para garantir a sobrevivência da população mais carente, mas tem que ter vontade política.
Enquanto a vacina não chega para todos, o sistema de saúde pede socorro aos governos e à população para poder continuar salvando vidas.
Eugênio Couto Terra é juiz da 10ª Vara da Fazenda Pública (especializada em saúde). Artigo publicado no jornal Zero Hora, edição de 6-7/3/21.