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Nos cuidar de quem está para nos cuidar?, por Luis Carlos Rosa

Nos cuidar de quem está para nos cuidar?, por Luis Carlos Rosa

Artigo de autoria do juiz de Direito Luis Carlos Rosa, publicado no dia 16 de janeiro em coluna semanal no Jornal das Missões, de Santo Ângelo.

Minha proposta ao aceitar o convite para ser colunista semanal deste jornal é de dedicar as escritas aos temas da infância, juventude e idosos, contudo, excepcionalmente para essa coluna, sou obrigado a tratar do tema da violência, tema, aliás, que todos os dias enche os noticiários jornalísticos, muitas vezes tratado de forma sensacionalista e banalizada, invariavelmente distorcendo o foco da questão.

Ocorre que ao começar a escrever a coluna, fui colhido de surpresa pela imagem do colega Fábio Mattiello, Juiz Federal que atuou por longos anos em Santo Ângelo, professor na URI, pessoa de trato fácil, profissional exemplar, entrevistado no “Jornal do Almoço”, em frente ao Palácio da Polícia em Porto Alegre, falando acerca da morte trágica de seu irmão, Vilmar Matttiello, 58 anos, Engenheiro Civil, fato ocorrido no dia 13 de janeiro.

Segundo o que se sabe Vilmar estava conduzindo seu veículo, na companhia de um amigo e teria atravessado um sinal vermelho, sendo alvejado mais adiante por policias militares, que dispararam por três vezes contra o veículo atingindo o condutor no tórax, vindo ele a perder o domínio sobre o carro e a colidir em um poste, sendo levado ao hospital onde veio a falecer cerca de uma hora mais tarde.

Não é o caso aqui de entrar no mérito da questão para saber as razões do condutor não ter parado o veículo diante da abordagem, ou se isso ocorreu efetivamente, o que chama a atenção neste episódio é a falta total do uso da técnica de abordagem. Não se aborda um veículo a tiros, não se joga em frente a um veículo em alta velocidade – se é que o veículo estava em alta velocidade – nos dias de hoje, não se concebe uma ação policial exercida como se estivesse no “Velho Oeste” atirando antes da constatação real de que isso é necessário, repelindo injusta agressão, como disse, sempre utilizando da técnica.

Servi nos quadros da Brigada Militar por 12 anos, de 1985 a 1997, como aspirante e tenente da corporação e posso afirmar com conhecimento de causa: nossos policiais não recebem a preparação adequada, não são selecionados com o rigor que deveriam ser e, sendo justo, são muito mal remunerados. Há excelentes policiais, policiais vocacionados, preparados, mas infelizmente existem policiais truculentos, desequilibrados, que não conseguem manter a serenidade em momentos decisivos, quando a adrenalina está em alta, momentos que se repetem no dia a dia.

E acaba acontecendo o que aconteceu, uma morte, a família e os amigos sofrendo, revoltada, com a mais absoluta razão, não sendo esse um fato isolado, cumprindo à adoção de todas as providências para que seja devidamente esclarecido o fato e punidos os responsáveis, o que não resolverá a questão central, na medida em que hoje, amanhã e depois continuarão nas ruas alguns policiais despreparados, mal selecionados, cumprindo sim à Brigada Militar fazer uma “mea culpa”, reciclando seus agentes, insistindo todos os dias para o uso correto da técnica, o que certamente trará maior segurança para os próprios policiais, como para a população. Não basta termos que nos trancar com medo de assaltos, roubos, estupros, da violência, para também nos cuidarmos de quem está para nos cuidar?

Meus mais sinceros sentimentos à família, que Deus dê a todos a serenidade para enfrentar esse momento de extrema dor.