08 jun Fazer mais com menos, por Luis Carlos Rosa
Artigo de autoria do juiz de Direito Luis Carlos Rosa, publicado no dia 3 de junho em coluna semanal no Jornal das Missões, de Santo Ângelo.
Semana retrasada, no sábado à tarde, estive com alguns alunos do Curso de Direito da URI, matriculadas na disciplina do Estatuto da Criança e do Adolescente, fazendo uma visita ao Centro de Acolhimento Martinho Lutero, localizado às margens da BR 285 em Entre-Ijuis, ocasião em que os alunos tiveram a oportunidade de conhecer a realidade das crianças acolhidas e o trabalho da instituição, com uma interação lúdica com os acolhidos, distribuição de cestinhas com doces, cachorro quente e refrigerantes. A questão material é o menos importante, o que não tem preço é o sentimento das crianças de se sentirem acolhidas, o sorriso, o abraço afetuoso, a percepção de que existem pessoas preocupadas com eles e que estão dispostas a se doarem, a auxiliarem e essa foi a minha intenção.
O que vejo é que boa parte das pessoas, na correria do dia a dia, são absorvidas por essa coisa louca do trabalho, das necessidades que o mercado nos impõe, do consumismo, de um modelo que prega a felicidade individual, havendo um perigoso distanciamento das relações de afetuosidade, muitas vezes dentro da própria família, onde os pais tem perdido muito nas relações com os filhos, os quais têm muito mais contato com estranhos do que um diálogo na família, em um temerário processo de terceirização dos filhos, além disso são horas e mais horas nas mídias sociais, whats App, jogos eletrônicos, facebook, etc., sinto isso dentro da minha própria casa e me penitencio por isso, por que vejo, diariamente, o quanto é importante a família e essa proximidade nas relações humanas.
Hoje meu trabalho envolve muito essas questões de trabalhar pelo outro, trabalhar na reconstrução de vínculos, no diálogo, no consenso, na busca da harmonia entre as pessoas, seja como Juiz da Vara da Infância e Juventude ou como Juiz Coordenador do CEJUSC (Centro Judiciária de Solução de Conflitos e Cidadania), além das atividades como professor na URI. Envolvo-me de cabeça nisso, sendo um dos principais desafios a busca da construção de uma rede protetiva eficaz e que trabalhe de forma concatenada, são inúmeras reuniões, conversas, apoios, ajustes e cobranças tudo visando que as coisas funcionem adequadamente, só nessa semana foram três reuniões, todas muito proveitosas, onde se percebe a existência de pessoas extremamente comprometidas, contando com profissionais que se esmeram e se angustiam por não poder fazer mais, estando todos no limite, ou muito próximo disso.
A ordem do mercado e das instituições é fazer mais com menos, o problema é que já está se fazendo tudo ou quase tudo o quanto é possível, com o mínimo, não vislumbrando eu mais espaço para fazer muito mais do que já está se fazendo, com os recursos que se tem, todos estão literalmente “esguelados” nos serviços de alcance social, a questão são as eleições de prioridades, a desburocratização que também atrapalha, a colocação de pessoas estratégicas em postos estratégicos, com o mínimo de desperdício de recursos materiais e humanos.
Uma outra alternativa é chamar a sociedade para se envolver e fazer com que se envolva, precisamos de voluntários em vários seguimentos, precisamos de pessoas dispostas a dar um algo mais, precisamos de empresas que nos abram possibilidades, não se constrói uma sociedade inclusiva sem o engajamento de todos.
Um ótimo final de semana.