28 mar A DEMOCRACIA AGRADECERÁ, por Pio Giovani Dresch
Em 2002, o Tribunal Regional Eleitoral impediu a posse de um candidato a Deputado Federal, ao lhe cassar a candidatura. A decisão motivou-se no fato de que a filiação partidária desse candidato se deu fora do prazo legal. Havia nos autos uma ficha de filiação com a data certa, mas a análise do documento permitiu descobrir que essa data tinha sido falsificada.
O jovem candidato nunca se recuperou da frustração da perda de um cargo, causada pela ilicitude eleitoral, e passou, tal como acontece ao filho imaturo que vê injusta a censura do pai, a devotar ódio mortal ao Judiciário.
Desnecessário dizer que, a partir daí, não mais perdeu oportunidade para destilar seu ódio. A obsessão foi pouco depois facilitada pela obtenção de mandato eletivo, que lhe oportunizou mais e mais difamar, confortavelmente coberto pela imunidade parlamentar.
No seu palco preferido, um programa de debates que o tem como convidado preferencial, e mesmo quando o assunto do programa é outro, não perde a oportunidade de acossar seus principais inimigos. Assim, poucos dias atrás, afirmou ser óbvio que há juízes e desembargadores no Rio Grande do Sul que vendem suas decisões. Nem mesmo seus pares escapam dessa fúria insana, porque, ao falar de juízes e deputados, afirma haver acobertamento recíproco de ilicitudes: segundo o Deputado, Judiciário e Legislativo funcionam segundo a máxima “não mexe no meu, que não mexo no teu”.
Claro que não há só imaturidade nessa conduta, há também muita esperteza, porque, ao disparar sua metralhadora giratória, o Deputado se apresenta ao eleitor como um guardião da moralidade, cuja ira santa haverá de lhe permitir amealhar mais e mais votos do cidadão incauto nas próximas eleições.
Evidentemente, não é o papel que se espera de um político. O Brasil é um país que tardiamente começou a construir uma cultura democrática, e necessita muito que a população acredite em suas instituições. Se há corrupção, é necessário que seja combatida com todas as armas, não com palavras vazias e irresponsáveis, jogadas ao vento, que buscam desprestigiar as instituições, que atacam os juízes indistintamente, e atacam também os deputados.
Se o Deputado não conhece casos de venda de sentenças, está sendo irresponsável ao falar do que não sabe; se conhece casos de venda de sentenças, está sendo irresponsável ao fazer acusações genéricas, fáceis para desgastarem uma instituição e uma classe, mas absolutamente inócuas para o combate sério à corrupção e para a construção de uma sociedade democrática.
Deputado Marchezan, vai aqui um pedido: diga quem são os juízes e desembargadores que vendem sentenças. Tenha certeza de que o Tribunal de Justiça investigará suas denúncias com muita seriedade e rigor.
Mas, por favor, Deputado, pare de bater gratuitamente, pare de se apresentar como uma vestal. O senhor tem talento para ser um grande político. Cresça, aja mais eticamente, e a democracia agradecerá.
Pio Giovani Dresch
Vice-Presidente da AJURIS