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A cura pela arte: debate sobre arte, loucura e Direito marca abertura de exposição na Pinacoteca

A cura pela arte: debate sobre arte, loucura e Direito marca abertura de exposição na Pinacoteca

Segunda exposição da Pinacoteca da AJURIS de 2018 recebe obras de internos do Instituto Psiquiátrico Forense até o dia 31 de agosto.

A abertura da mostra Action Painting, que compõe a exposição A Cura Pela Arte, movimentou a Pinacoteca da AJURIS na quinta-feira (23/8). Composta por obras dos internos do Instituto Psiquiátrico Forense (IPF), os trabalhos são resultado de um projeto desenvolvido em parceria com Vara de Execuções de Penas e Medidas Alternativas (VEPMA) de Porto Alegre. Na ocasião, também ocorreu o painel Arte, Loucura e Direito, encerrando as atividades da exposição de percurso.

“Nós somos apenas intermediários e potencializadores do talento desses pacientes. São eles os verdadeiros artistas e protagonistas desse processo. Cada obra representa um momento de transformação e mostra que é possível fazer um trabalho diferente, mesmo em um espaço de privação de liberdade. A arte tem possibilitado uma verdadeira transformação de vidas dentro do IPF”, ressaltou o juiz de Direito titular da VEPMA de Porto Alegre, Luciano André Losekann.

Como destacou a presidente da AJURIS, Vera Deboni, a Pinacoteca é um espaço pensado para compartilhar o talento de quem utiliza a arte como meio de expressão e transformação. “Receber essas obras com tanto significado é uma verdadeira honra para a associação”, frisou a magistrada. A mostra é a segunda exposição do espaço em 2018 e faz parte do calendário de atividades culturais da associação, que anualmente expõe o trabalho de profissionais e amantes da arte.

Ao todo, a mostra Action Painting conta com 21 obras criadas a partir do exercício expressionista homônimo. “São categorizadas de obras de arte por terem origem na emoção genuína de seus autores”, destacou o curador da exposição Aloizio Pedersen,  responsável por desenvolver o projeto Artinclusão com mais de 50 internos do IPF. Como lembrou o artista plástico, outras duas mostras também fazem parte do projeto: Dripping, no Palácio da Justiça, e Klimt Visita o IPF, no Foro Central II.

Na abertura da mostra na Pinacoteca também estiveram presentes a vice-presidente Cultural da AJURIS, Madgéli Frantz Machado, o diretor da Escola Superior da Magistratura, Jayme Weingartner Neto, a diretora da Pinacoteca, Márcia Kern, e a presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-RS), Vania Cunha Mattos.

Arte, Loucura e Direito:

Após a abertura da mostra, o artista plástico Aloizio Pedersen, a psicóloga da Superintendência dos Serviços Penitenciários do Estado (Susepe/RS), Maynar Vorga, o juiz de Direito Luciano André Losekann e o interno do IPF, Gustavo Rizzotto, representando os artistas em exposição, se reuniram para uma roda de conversa sobre arte, loucura e Direito.

Confira os principais depoimentos do encontro:

“O projeto desenvolvido do IPF é muito objetivo, ele trabalha diretamente com o expressionismo. Desde a primeira oficina, em junho de 2017, quando trabalhamos a técnica action painting, que compõe uma das mostras em exposição, o IPF não deixou mais de ter a cor, a luz, a esperança, angústia, a alegria e a busca por coisas melhores. E expressar esses sentimento é exatamente o objetivo desse projeto. Como já dizia Foucault (filósofo Michel Foucault), todo homem tem uma verdade. Os ‘loucos’ também tem a sua verdade, mas ela está encoberta, longe do seu próprio acesso. A arte é esse acesso. O papel do ArtInclusão é justamente deixar vir essa verdade que está guardada, silenciada por uma sociedade que se acha melhor do que eles”, explicou o artista plástico Aloizio Pedersen.

“O que é a loucura? Como  a gente define a loucura? Nós sempre acabamos definindo como aquilo que não é razão. Nós tentamos organizar toda a nossa vida como se a razão fosse a única coisa certa. Mas a razão é a forma mais pobre que nós temos de conhecer o mundo. Eu gostaria de aproveitar para fazer uma provocação para vocês: qual é o lugar da loucura na tua vida? Como que você olha para uma pessoa que esteja na rua dançando e cantando sozinha? Você se atreve a contar sozinha na rua? Então, o que é a loucura se não uma marca que a gente atribui a outras pessoas que se organizam de outra forma para viver? Nós precisamos parar de pensar assim, explodir os muros da razão e parar de excluir pessoas tão ricas e maravilhosas como esses artistas”, sustentou a psicóloga da Susepe, Maynar Vorga.

“Graças a um médico italiano chamado Franco Basaglia se começou a romper com a visão de que as pessoas com transtorno mental deviam ser tratadas em um hospital psiquiátrico. Então, em 1961, Basaglia começou a perceber que tudo que era feito era mais do mesmo e que o problema não estava nos internos, mas sim na instituição. O problema era a instituição manicômio. A partir daí ele começou a trabalhar com uma perspectiva diferenciada e isso influenciou muito a psiquiatria moderna, rompendo com os conceitos da psiquiatria convencional e a própria visão que o Direito tinha das pessoas com transtorno mental em conflito com a lei. Fruto desse trabalho, em 1978, iniciou no Brasil um movimento dos trabalhadores de saúde mental para mostrar para a sociedade que era possível trabalhar de uma maneira diferente com essas pessoas. Isso culminou com um movimento tão forte e propositivo que resultou na lei 10.216 de 2002, a chamada Lei da Reforma Psiquiátrica, que passou a ver as pessoas, não mais como objetos de um processo, mas titulares de um direito. E hoje, o grande desafio hoje é, então, fazer com que a lei seja aplicada em todos os cantos do país”, destacou o juiz de Direito Luciano André Losekann.

Durante a mesa de conversa os internos do IPF também puderam interagir e contar mais sobre a experiência do projeto. Gustavo Rizzotto, que representou os artistas na mesa, aproveitou para desabafar: “No ambiente que a gente vive, a gente fica a sombra da sociedade. Mas nós somos que nem as outras pessoas, apenas com um problema a mais que cedo ou tarde será sanado”, frisou.

Exposição de percurso:

A exposição A Cura pela Arte pode ser acessada até o dia 31 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h. Confira os locais:

Mostra Dripping
Galeria dos Casamentos do Palácio da Justiça
Praça marechal Deodoro, 55 – Centro Histórico

Mostra Klimt Visita o IPF
Átrio do Foro Central II
Rua Manoelito de Ornellas, 50 – Praia de Belas

Mostra Action Painting
Pinacoteca da AJURIS
Rua Celeste Gobbato, 229 – Praia de Belas

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