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XII Congresso: Karnal destaca o papel dos juízes como agentes de transformação

XII Congresso: Karnal destaca o papel dos juízes como agentes de transformação

Com o tema central do XII Congresso Estadual de Magistrados: “Entre redes e muros: juízes e seus labirintos”, a palestra do filósofo Leandro Karnal encerrou, na sexta-feira (29/9), a programação científica do evento, pedindo que os juízes continuem acreditando nos seus papéis de agentes de transformação.

O professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) abriu o painel falando que o momento vivido pela sociedade brasileira é de “mudanças e transformações de modelos” e, portanto, a Justiça não poderia ser excluída do processo. No entanto, ele ressaltou que o período é de muitas incertezas, diante de “um sistema sem critérios e parâmetros”.

Fazendo um resgate do significado da palavra “juiz”, o filósofo citou que o conceito “deriva de critério e senso crítico”, o que apontou como essencial para o exercício da jurisdição, pois na sua visão, as pessoas buscam o juiz quando não encontram mais alternativas: “Quanto mais ignorante eu for, menos dúvidas eu tenho. A inteligência tem dúvidas. Estão com dúvidas? Sintam-se inteligentes, pois enxergam pontos de fuga”, afirmou.

No entanto, Karnal ressalta que o pensamento crítico deve ser afastado das paixões, como todos as questões subjetivas que permeiam a atuação dos magistrados: “Neutralidade é impossível, mas é uma boa meta, e a autoanálise é muito importante para isso”.

Outro aspecto destacado pelo palestrante são as mudanças culturais trazidas pelo uso da tecnologia, que “está revolucionando as relações”. Ele citou que, por vezes, a capacidade de buscar informações – que está cada vez mais acessível – é confundida com a capacidade de saber, com as pessoas emitindo opiniões o tempo todo e sobre assuntos que não dominam. Conforme o filósofo, outra característica dessa revolução tecnológica é que vivemos em uma “sociedade do ressentimento”: “A paixão e narcisismo fazem com que qualquer opinião contrária seja uma ofensa pessoal”, afirmou.

Karnal também citou as mudanças sociais, que ocorrem com a mesma velocidade das transformações tecnológicas: “Tudo muda com rapidez enorme e a atualização é indispensável e fundamental”, afirmou. Frisou também a relevância da atualização dos magistrados em relação aos novos paradigmas da contemporaneidade: “Não é possível um juiz apenas ler livros de atualização da área”, apontou, reafirmando a importância da formação humanística para o exercício da jurisdição em uma sociedade marcada pela diversidade.

Sobre este tema, o professor da Unicamp ainda chamou atenção para a pressão popular em torno das decisões judiciais: “É muito importante saber que às vezes uma decisão é impopular, mas é justa”, afirmou. Ele citou que o equilíbrio no julgamento é fundamental, mas que nem todas as questões tem dois lados, citando, como exemplo, os casos de racismo, homofobia e intolerância. Finalizou chamando os juízes a continuarem atuando na transformação do mundo: “Nós fazemos parte da mudança, eu como professor, e os senhores como magistrados. Se acreditarmos que nada muda será a vitória do mau”.


Texto: Joice Proença
Fotos: César Silvestro
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