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Uma marcante experiência sociocultural, por Sérgio Gischkow Pereira

Uma marcante experiência sociocultural, por Sérgio Gischkow Pereira

Artigo de autoria do desembargador aposentado e diretor do Departamento
de Promoção da Cidadania da AJURIS, Sérgio Gischkow Pereira.

As atividades culturais não podem suceder apenas e sempre entre as mesmas pessoas, em regra já situadas em um estrato social em que todos os conhecimentos estão facilmente disponíveis. É comum a realização de eventos, evidente que importantíssimos, em que todos os presentes pensam igual ou quase igual e têm acesso a todos os dados políticos e culturais. O problema é a ausência da população menos favorecida social, cultural e economicamente nestes encontros. No tocante ao Judiciário em especial, sempre preocupou seu distanciamento em relação ao povo.

Em face disto, o Departamento de Promoção da Cidadania da AJURIS, na anterior e na presente gestão, resolveu, como  grande objetivo, reformular e ampliar o anterior Guia de Justiça e Cidadania da AJURIS (agora denominado Guia de Cidadania e Justiça), para depois reunir-se com o povo, distribuir o Guia e debate-lo. Trata-se de projeto de grande porte e duração ilimitada (óbvio que não deveria ficar circunscrito a um período administrativo, sejam quais forem os integrantes da Direção da Associação).

O primeiro encontro com a população deu-se em 11 de junho corrente, no Bairro Rubem Berta (pelo Departamento compareceram, além do subscritor deste artigo, Maritana Viana Silveira e José Francisco Pellegrini). Lideranças populares reuniram-se na Associação Comunitária dos Moradores do Conjunto Residencial Rubem Berta. Foram mais de quatro horas de conversa com o povo, com um espaço também na rádio comunitária. Fizemos questão de deixar claro que estávamos ali também para sermos questionados e criticados. Foi entusiasmante constatar a alegria dos presentes por contatarem de forma direta com integrantes do Poder Judiciário, mesmo aposentados. Comovente a apresentação de dança e canto por crianças, em agradecimento à presença da AJURIS.

Procuramos emprestar grande ênfase aos aspectos políticos do Guia. Claro que não se cogita de política partidária, mas no sentido amplo da palavra política. Mostramos como é fatal para o povo alhear-se da política, pois é ela que conduz toda a organização social e ingressa na vida de cada um, queira ele ou não, saiba ele ou não. Mostramos a relevância da união através de associações de bairros, entidades comunitárias, partidos políticos, sindicatos, movimentos organizados etc. Apontamos o grande significado das manifestações de rua, mas sem saques e depredações. Estas manifestações, por exemplo, podem exigir o cumprimento da Constituição Federal, quando prevê imposto sobre as grandes fortunas, participação dos trabalhadores nos lucros da empresa e em sua gestão; podem reclamar contra uma carga tributária que afeta proporcionalmente mais aos pobres. Enfatizamos a importância dos direitos humanos. Apontamos garantias, também constitucionais, em favor dos suspeitos da prática de delitos. E assim por diante.

Ao final do pronunciamento preambular da AJURIS, foi lembrado um pensamento de Renan: “o que faz que os homens formem um povo é a lembrança das grandes coisas que fizeram juntos e a vontade de realizar outras”. É comum dizer-se que “povo unido jamais será vencido”. Eu acrescentaria: “povo informado, conscientizado e unido jamais será vencido”.

 

Sérgio Gischkow Pereira
Diretor do Departamento de Promoção da Cidadania