20 jul Feminismo negro e representatividade foi tema de debate mediado por diretora da AJURIS
A diretora do Departamento de Direitos Humanos da AJURIS, Karen Luise de Souza Pinheiro, reforçou a importância da representatividade negra no Poder Judiciário durante o debate Feminismo Negro e Representatividade: de Dandara a Marielle, presente!, realizado no Arquivo Público do Rio Grande do Sul na manhã dessa sexta-feira (20/7). O encontro reuniu ativistas do movimento feminino negro gaúcho para falar sobre os desafios no enfrentamento ao preconceito e reivindicar maior espaço nas diferentes esferas da sociedade.
“Os nossos sentimentos e as nossas histórias precisam ser apresentadas. Nós precisamos dar voz a tudo o que vivemos. E o feminismo negro surge exatamente como um forma de expressar essa voz, de mulheres que lutam por novos espaços e oportunidades para a população negra”, destacou a magistrada, que coordenou a mesa de debate.
Questionadas pela juíza sobre o principal desafio nessa luta, as ativistas Maria Conceição Lopes Fontoura (ONG Maria Mulher – Organização de Mulheres Negras), Vera Lúcia Rosa (Movimento Negro Unificado) e Nina Fola (Coletivo Atinuke) foram unânimes ao afirmar que, cada vez mais, é preciso ocupar os lugares de representatividade na sociedade, especialmente, os cargos públicos e com poder de mudança.
Magistrada há 19 anos, Karen reforçou a importância dessa representatividade no próprio Poder Judiciário do Rio Grande do Sul. “Somos apenas três mulheres, duas negras e uma parda. É inquestionável que precisamos ampliar internamente essa discussão para que, então, o Judiciário possa representar os anseios e desejos da população negra, maioria do nosso país. Esse é um compromisso meu e deve ser um compromisso de toda sociedade”, frisou.
O painel fez parte do Seminário ‘130 anos de Abolição Incompleta da Escravidão no Brasil e os 30 anos da Constituição Cidadã’, realizado entre 18 e 20 de julho. Organizado pela Comissão da Verdade da Escravidão Negra da OAB/RS, o evento contou com parceria da AJURIS, do Arquivo Público do Estado do RS, da Unisinos, da Defensoria Pública da União e Defensoria Pública do Estado do RS.
Depoimento da magistrada
“Eu gostaria de finalizar esse encontro com um depoimento. Queria sair desse meu lugar de magistrada e dizer que de certa forma eu me senti, aqui, um peixe fora d’água porque eu não compartilhei uma fração mínima das histórias que foram compartilhadas e representam a luta das mulheres negras no nosso Estado, no nosso país. E, nesse sentido, eu me sinto sozinha nesse espaço, mas também sinto essa solidão como uma mulher negra magistrada. Eu me vejo em lugar nenhum. O meu desafio ao feminismo negro é que a gente possa romper essas barreiras. Para que eu me sinta incluída aqui [espaço do debate] e não me sinta sozinha lá [Poder Judiciário]. Lá é o nosso lugar, lá existe um espaço que é só nosso e que ele não é ocupado. Ele é muito grande para que eu possa carregá-lo e ocupa-lo sozinha. E vocês tem o desafio de me ajudar nessa luta”, disse a magistrada, em depoimento emocionado.
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