16 ago Contardo Calligaris faz reflexões sobre as transformações sociais e morais na era digital
O encerramento do XIII Congresso Estadual da Magistratura foi marcado por provocações e reflexões do pensador e psicanalista Contardo Calligaris. A palestra Homo Digitalis: Decifra-me ou Devoro-te foi realizada nesta sexta-feira (16/8), finalizando os três dias de debates sobre a magistratura digital, tema central do evento. A última atividade da programação científica foi conduzida pela vice-presidente Social, Patrícia Laydner, e pelo vice-diretor da Escola da AJURIS, Roberto Ludwig.
O psicanalista fez um paralelo sobre como o status de reconhecimento e aceitação social se transformou na pós-modernidade. Contardo afirma que antigamente a questão da nobreza era determinante para o status social, e que isso foi substituído pela necessidade de reconhecimento.
“O reconhecimento dos outros é o que faz com que sejamos o que somos. Isso parece ao mesmo tempo uma servidão. Queremos saber em que medida os outros gostam de nós. Estamos escravizado ao olhar dos outros”, afirmou Contardo.
Neste contexto, as redes sociais potencializam a busca por aceitação. O psicanalista destacou que no ambiente digital as pessoas constroem avatares com o que desejam mostrar aos outros: “Numa rede social eu preciso que gostem de mim”, afirmou, salientando: “É uma espécie de interrogação sobre quem somos aos olhos deles [os outros], e quem somos verdadeiramente”.
Ilustrando que a construção da moral é baseada em estágios, sendo o último o da autonomia, quando se questiona as leis instituídas ou normas sociais, Calligaris aponta que a era digital também ampliou a necessidade de pertencimento: “Pertencer a um grupo se torna mais importante do que exercer autonomamente seu pensamento. E o grupo é o inimigo do pensamento moral, ele é a escada de acesso para quem quer fugir da liberdade”, ressaltou, refletindo que: “Ser livre e exercer uma autonomia moral é muito perto de ser insuportável”.
O psicanalista fez, ainda, uma provocação, questionando a qualidade da atenção em tempos de uso – por vezes excessivo – das redes sociais. “Tem uma dimensão da experiência que perdemos, porque estamos constantemente nos distraindo do mundo, e essa distração sem dúvida nos afasta da imanência”, ou seja, do que é real. Ele finalizou afirmando que a qualidade da atenção faz “diferença na vida cotidiana, na transcendência e na relação com os outros”.
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Fotos: Rodrigo Lorandi