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O pátio das concubinas, por José Carlos Teixeira Giorgis

O pátio das concubinas, por José Carlos Teixeira Giorgis

Artigo do juiz de Direito José Carlos Teixeira Giorgis publicado no jornal Minuano desta quarta-feira (16/4).

Marrakech é uma das quatro cidades marroquinas imperiais ou sagradas, junto com Fez, Meknés e Rabat; diferente das demais que possuem outras tonalidades, é conhecida como “cidade vermelha”, pois suas muralhas e prédios têm cor ocre; sua praça Jemaa el-Fna é movimentada, vendedores ambulantes, artistas circenses, barracas, muito barulho, é o cartão de visita; mais adiante, como em outras, existe uma (al)medina, sempre um dos locais mais peculiares, com suas vielas onde os comerciantes quase agridem para impor seus produtos, prata, tapetes, roupas, vozes e discussões, pois pechinchar é regra para a compra.

A viagem programava visita ao Palácio Al Bahia que pertencera ao Vizir, espécie de 1º ministro, construção amplíssima, com pátios e quartos, ricos interiores como é costume, pois a filosofia daquele povo é típica: sob paredes externas esburacadas escondem-se verdadeiros tesouros.

Desde logo, por razões de ofício, seduziu-me o pátio que a imagem reproduz.

A relação livre, ou concubinato, existe desde a madrugada da civilização, remonta a milênios, de babilônios a hebreus; romanos e gregos; assim a posse de uma única mulher era desairosa para os homens, tanto que dita união se institucionalizou, ganhou dignidade.

No pátio, como se vê, há diversos quartos onde habitavam as concubinas e seus filhos, enquanto as esposas moravam nas peças da frente do edifício (Salomão, diz-se, tinha setecentas mulheres e trezentas concubinas); os conjuntos femininos coabitavam em grande harmonia convergindo para a felicidade do senhor e descendentes.

Os filhos, sem distinção, eram criados juntos e educados numa ampla peça ou “escola corâmica”, onde aprendiam o Corão, sob vigilância das paredes atapetadas e dos pais.

A par disso, nos colégios os alunos, além do árabe, aprendem francês no primeiro grau (o Marrocos foi protetorado até a década de cinquenta); no segundo grau lhes ensinam inglês; e na faculdade são obrigados a cultivar outra língua (o guia que nos acompanhou falava português); assim, em regra, além da língua materna, manejam três idiomas fluentemente.

Hoje os pátios prestam-se mais para a visitação turística, pois os árabes adotam a monogamia, embora algumas etnias ainda observem a tradição antiga.

Talvez pela influência mourisca que veio dos espanhóis achei o pátio meio parecido com o das antigas estâncias, em que se almoçava à sombra das parreiras, um algibe próximo; e que também era circundado por quartos onde dormiam os peões; provisões; e as empregadas. A semelhança fica por aí.